quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Redividir as Divisões da Bíblia muda muita coisa ou a Apresentação da Verdade pode resolver?

Graça, Paz e Alegria


Eu já ouvi muitas pessoas dizendo que a divisão do Antigo e do Novo Testamentos em nossas Bíblias está errada!

Certa vez, ouvi de um "pregador" que esse erro na divisão era a razão de muitos perderem a salvação! Quer dizer: pessoas se perderam ao longo da história por conta dessa divisão. Esse era o entendimento desse pregador ou a forma que ele usou para alertar da "gravidade" de tal "erro" nas divisões de Testamento.

Ouvi a defesa que para existir testamento é preciso ter morte, que sem morte não há testamento, para, com essa defesa, dar a entender que seria melhor dividido Antog e Novo Testamentos a partir da morte de Jesus.

Bom, vamos por partes:

1 - O testamento é lido depois da morte, mas é escrito com a pessoa viva. Não há testamento apenas se a pessoa morrer, mas só há testamento se a pessoa escrever o mesmo ainda viva! O testamento é lido e conhecido depois da morte, mas só pode existir se a pessoa o fizer em vida! Então, na prática, só há testamento se houver vida, e depois da morte, se conhece através da leitura do testamento deixado escrito em vida, qual era a vontade da pessoa. O testamento é a representação da vontade da pessoa para a distribuição de posses, entre outras coisas. Para que a pessoa expresse sua vontade, ela precisa ainda estar viva! Então, o testamento é lido depois da morte, mas a pessoa escreve enquanto ainda está viva... Para ter o testamento, a pessoa precisa estar viva para escrever... Para se ler e seguir essa vontade expressa no testamento, aí tem que acontecer a morte...

2 - Não acredito que pessoas perderam a salvação por viver algo ligado ao Antigo Testamento ainda expresso em páginas do que conhecemos como Novo Testamento, dependendo do que foi (importante essa ressalva e isso será apresentado mais a frente neste texto). Se houve sinceridade e seguiram o que era a representação da vontade de Deus (sinceridade, mas fazendo o errado, deixemos com o Senhor), sem deixar de aceitar a Jesus como Único e Suficiente salvador, se foram orientadas em detalhes que não mudam a santidade de forma equivocada, mas mantiveram a santidade, entendo que quem tomará essa decisão sobre salvação ou perdição é o Senhor (Romanos 6.15-23). Aliás, a decisão de salvação ou perdição não cabe a nós, por observações que podem ser enganosas aos olhos, mas apenas ao Senhor, e em qualquer caso (conferir Mateus 6 e 7.15-23 - muitos farão coisas que poderão até parecer certas, mas não serão reconhecidos pelo Senhor, que vê mais que a atitude externa: vê o coração);

3 - A chave para resolver a questão dos "judaísmos" e aspectos da "lei" presentes no cristianismo pregado e vivido por muitos está apenas e tão somente em dois textos, muito claros - João 1.1-13 e Atos dos Apóstolos 15. Os exageros dos judaísmos são retratados em Hebreus, mas esses textos aqui citados preliminarmente permitem uma explanção que acalma esse entendimento dos "judaísmos" mais do dia a dia no meio do cristianismo:

João 1.1-13 - Jesus, enquanto terminou de escrever o "Antigo" testamento, durante Seu ministério na terra, Verbo Encarnado, veio para os que eram seus. Por isso, Ele trata primeiramente com os seus, os judeus. E é claro que os aspectos judaizantes, da Lei, deveriam estar presentes. Mas quando os seus não o receberam, a todos quantos O receberam e ainda recebem, aos que creram e ainda creem no Seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, agora por Graça, pois Ele cumpriu a Lei e pagou o preço por nosso pecado, livrando-nos da condenação e da necessidade de observação da Lei para que pudéssemos ter a salvação.

Atos dos Apóstolos 15 - é a apresentação do primeiro Concílio, primeira Assembleia, Reunião "doutrinária" da Igreja que nascia, que agora não contava mais apenas com judeus convertidos, mas também gentios alcançados pela Palavra. Alguns entendiam que os gentios convertidos precisavam seguir os ritos que os judeus seguiam ao mesmo tempo que seguiam as recomendações do cristianismo que nascia. Outros entendiam que os gentios não deveriam ser obrigados a seguir os ritos judaicos. A reunião termina com uma decisão: aos gentios convertidos não deveria ser imposto os aspectos da Lei, a não ser 4 coisas:  se abstenham das contaminações dos (1) ídolos (aqui entra idolatria e alimentos consagrados - conferir Atos dos Apóstolos 15.29), da (2) prostituição (aspectos da vida), do que é (3) sufocado e do (4) sangue (aspetos da alimentação) - Atos dos Apóstolos 15.20. Qualquer outro aspecto da Lei não pode ser tido como certo ou errado se a pessoa seguir (não no tocante ao sacrifício para perdão de pecados, pois esse Jesus realizou o sacrifício suficiente - conferir Hebreus, ou nos aspectos da Lei que Jesus tratou diretamente durante Seu ministério), mas definitivamente não pode ser IMPOSTO, pois, naquele concílio de Atos dos Apóstolos 15, pareceu bem aos reunidos naquele momento e ao Espírito Santo (Atos dos Apóstolos 15.29) que não fosse obrigado aos novos convertidos vindos do mundo Gentio que seguissem aquelas regras que os judeus convertidos ainda seguiam (importante essa observação: os judeus convertidos ainda seguiam algumas das orientações da Lei, pois se assim não o fosse, não seria necessário discutir se isso seria ou não imposto também aos convertidos do mundo Gentio - Gentio era todo aquele que não era Judeu). Não foi uma decisão apenas dos apóstolos, mas direcionada pelo Espírito Santo! Se não houvesse confirmação, o próprio Espírito Santo teria mostrado no correr da história a não concordância Dele com isso...

Entendimento que temos:

a) Não dá para dividir os livros dos Evangelhos, fazendo com que o Antigo Testamento siga até o momento que cada Evangelho narra a Morte de Jesus e depois iniciar o Novo Testamento com os textos seguintes a esse evento. Os 4 livros dos Evangelistas terminariam e iniciariam, os "testamentos";

b) É preciso orientar que Jesus "terminou" de escrever o "Antigo" Testamento com Sua vida e morte, e que o "Novo" Testamento começa pra valer depois da morte de Jesus, mas que Ele terminou de escrever esse Testamento ao cumprir a vontade do Pai de anunciar a salvação aos seus (judeus) e que esses não o receberam (alguns receberam, afinal os discípulos eram judeus, mas não todos) e com isso, abriu-se a chance do Novo: os gentios podem receber a mensagem também. Quer dizer: judeus e gentios podem ser alcançados com a mensagem de salvação em Cristo Jesus;

c) Os primeiros cristãos, ainda judeus, VIVIAM os aspectos judaizantes que ainda chegam em nossos dias. Se não vivessem, não teriam que fazer uma reunião (Atos dos Apóstolos 15) para decidir se os gentios iam pelo mesmo caminho. E na reunião de Atos dos Apóstolos não aparece que os judeus cristãos deveriam deixar essas práticas, mas que aos gentios não seria imposto isso, a não ser a ressalva já apresentada no texto! Quer dizer: tirando as questões apresentadas diretamente por Jesus como diferentes (como divórcio,  por exemplo, entre outras recomendações - conferir os Evangelhos) e a necessidade do sacrifício para o perdão de pecados, os aspectos da Lei não eram errados para os judeus novos cristãos! Não precisam ser vividos, não se pode obrigar as pessoas a viverem, mas não é errado viver isso! Porque se fosse, a recomendação de Atos dos Apóstolos 15 seria para que todos deixassem essas práticas e não apenas que não seria imposto aos gentios convertidos... Não se obriga ninguém a viver! Mas não há erro a ponto de perder a salvação, desde que se tome cuidado com as observações diretas de Jesus sobre a Lei e com a questão do sacrifício (Hebreus). Alguns ainda podem entender que os judeus mesmo ainda precisam observar as coisas que ainda eram observadas pelos primeiros cristãos judeus, outros que não precisam, mas eu fico com o entendimento que não se pode impor como obrigação, desde que se viva a vontade do Senhor, mas se for vivido, como os primeiros cristãos judeus viviam, não há erro, porque se houvesse erro, a recomendação de Atos dos Apóstolos 15 não seria apenas para não impor aos gentios convertidos, mas seria que TODOS (gentios e judeus) deveriam deixar de vez aqueles aspectos ainda observados;

d) Jesus veio para os seus... falou com os seus... e por isso, há aspectos judaizantes em sua mensagem! E o cristianismo começa dentro do judaísmo. Por isso no começo, esse cristianismo é perseguido pelo próprio judaísmo, pois entendiam que era apenas uma "divisão" dentro do judaísmo e para o judaísmo "ortodoxo", seria heresia (conferir Atos dos Apóstolos). Mas os seus não O receberam! E quem O recebe, crê no Seu Nome, é alcançado com a Salvação que Nele há! Mas é preciso deixar claro que primeiro Jesus falou para os seus, para os judeus. Atos dos Apóstolos 15 faz essa "divisão" definitiva: é o momento que o cristianismo está começando a se assumir não mais como um "ramo" dentro do judaísmo, mas passando a ser o que era de fato, que seja, uma nova forma de fé, independente do judaísmo (mas partindo dele), mesmo que com judeus convertidos que ainda observavam ALGUNS dos aspectos da Lei, mas agora com gentios convertidos que viviam o cristianismo (mesmo assim, Paulo iniciava a pregação em suas viagens nas sinagogas e depois ia para outros lugares - conferir as viagens de Paulo e outros no livro de Atos dos Apóstolos), sem ter a obrigação de observar os aspectos judaizantes. Mas os primeiros cristãos ainda judeus observavam alguns desses aspectos (com as ressalvas apresentadas por Jesus e a questão do sacrifício - em Atos dos Apóstolos vemos Paulo fazendo as observações judaicas antes de sua prisão - Atos dos Apóstolos 21.26 - se fosse errado, ele não faria ou o texto deixaria claro que Paulo errou a fazer isso, mas não vemos tal no texto). E quando outros tantos judeus se "converteram", e queriam a observação de mais aspectos do judaísmo no cristianismo, ai o Senhor preparou o escritor da carta aos Hebreus para resolver essa questão dos aspectos que deveriam ser deixados...

Se a Verdade for anunciada, veremos que as pessoas não precisam se preocupar com os detalhes que não acrescentam e não mudam a santidade. Mas é fato que a Verdade deve ser anunciada, para não oprimir as pessoas! Muitas vezes, perdemos mais tempo com o que não muda a santidade e acabamos deixando de lado os aspectos que podem sim mudar a santidade! Esses "detalhes" que mudam a santidade é que precisam ser combatidos em oração, jejum e com estudo da Palavra, não com condenações! Mas o momento que começa ou termina um testamento não vai mudar a santidade, desde que a Verdade seja apresentada como ela é:

- os judeus viviam alguns dos aspectos da Lei mesmo depois de convertidos e chegaram ao entendimento que, apesar deles viverem esses alguns aspectos, aos gentios não deveria ser imposto tal - pareceu bem a eles e ao Espírito Santo que não era para impor aos gentios convertidos essa realidade de alguns aspectos da Lei ainda observados;

- em vez de nos preocuparmos em mudar a divisão dos textos, precisamos entender o CONTEXTO dos textos para anunciar a Verdade que liberta;

- precisamos nos preocupar com o que realmente altera a santidade, porque se viver alguns desses aspectos do judaísmo muda a santidade, o próprio Paulo foi alvo dessa mudança de santidade, o que não nos parece ser apresentado no texto Bíblico;

- o que não se pode é obrigar as pessoas a viverem esses aspectos, mas quem vive, pode viver, desde que não vá para o exagero de querer observar tudo, pois aí vamos para o texto de Hebreus que responde a esse exagero;

- não nos parece errado viver alguns desses aspectos, mas é errado impor aos outros essa observação! E é errado exagerar na observação de todos os aspectos, pois aí haveria uma anulação do que Jesus fez.

Forte Abraço!

Em Cristo,
Ricardo, pastor