quarta-feira, 4 de março de 2015

Julgar ou constatar?

Graça, Paz e Alegria!

Muitos erram, pecam, por não conhecer as Escrituras...

Em nossos dias, em pleno século 21, parece que ainda vivemos a "Era das Trevas" e as pessoas ainda não conseguem acesso ao texto Bíblico, e os líderes religiosos falam o que querem de tais textos e as pessoas acreditam...

Isso vale para qualquer assunto: Graça (as pessoas preferem regrinhas), Mordomia Cristã (até parece que o mordomo cuida de tudo e entrega para o dono apenas 10%... o mordomo cuida de tudo que é do Dono e não tem falta de nada), entre outros assuntos...

Hoje, escrevo sobre um desses assuntos que estão "entre os outros assuntos": "Não julgueis"...

Gosto de "passear" pelas Escrituras, observando exemplos que podem ser comparados com atitudes atuais. Alguns negam a semelhança, mas durante tanto tempo, mesmo Isaías dizendo que o Senhor se assentava sobre a redondeza da Terra (Isaías 40.22), aproximadamente 700 anos antes de Cristo, a "igreja" ainda reclamava na Idade Média com quem dizia isso... O que para mim prova que eles não usavam o que a Bíblia diz, pois nem conheciam! Apenas faziam sua vontade e diziam que estava na Bíblia... Muitos culpam a Bíblia, mas quem errou naquele momento não foi por interpretar a Bíblia de forma errada, mas por nem conhecer o texto! Usavam como "amuleto", como "escudo", mas não como regra de fé e prática...

Antes de citar Jesus (nosso definitivo exemplo), para que ninguém comece dizendo que Ele era diferente, era homem, mas era Deus, sabia o que ia no coração das pessoas e a Bíblia revela isso em algumas situações, e outras afirmações do tipo, vou "caminhar" pelo Novo Testamento e verificar algumas atitudes de pessoas que foram inspiradas pelo Espírito Santo na escrituração da Bíblia e que devem ter buscado esse mesmo Espírito em suas atitudes cotidianas.

Comecemos com Paulo:

1 Coríntios 3.1 - "E eu, irmãos não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a criancinhas em Cristo" - Paulo "julgou" a condição dos de Corinto como "carnais"? Ah... ele tinha informações... Mas hoje em dia, mesmo com informações e até mesmo constatações pessoais,. se ousássemos falar uma coisa assim, alguém se levantaria para dizer que "estamos julgando" e quem sabe até devolveria que nós somos carnais, porque "na mesma medida que julgamos, somos julgados"... Mas ninguém ousa dizer que Paulo "julgou"... Logo... é possível constatar uma situação dessas sem julgamento, não é mesmo? Pois se Paulo podia... nós também podemos...

1 Coríntios 5.1-13 - Paulo chega a declarar que "pelo poder de nosso Senhor Jesus" quem estava fazendo o que ele trata nesse ponto da epístola, "seja entregue a Satanás para destruição da carne". Além de "julgar", deu uma "sentença", uma "condenação"! Claro que não... mas pelo que muitos falam nos dias de hoje, seria isso...

Gálatas 3.1-5 - chega a chamar os da Galácia de "insensatos". Pelos padrões de interpretação de nossos dias, julgamento...

Agora, outros escritores Bíblicos:

Tiago - capítulo 4 - leia esse texto e tente dizer que não é julgamento, diante do padrão de interpretação de nossos dias. Mas não era julgamento!

Pedro, em 2 Pedro 2, falando de "falsos mestres". É importante ter em mente que tais mestres não necessariamente vinham de fora do grupo de cristãos, mas passavam a interpretar o cristianismo de uma forma deturpada. Eram cristãos, reconhecidos como tal, ainda falavam algumas coisas que se comparavam com as falas de outros cristãos, mas diziam outras coisas que iam até mesmo contra a própria revelação do Evangelho, parecendo que fazia sentido. Em nossos dias, não é porque tem aparência de cristão, fala de Jesus, usa a Bíblia, que necessariamente segue esse Evangelho, como era naqueles dias! E ai de nós hoje em dia se ousamos falar que alguns não seguem de fato o Evangelho... Já se levantam muitos julgadores dizendo que não devemos julgar, que há frutos (muitos convertidos - como se isso fosse o verdadeiro fruto - esse, na verdade, é vida mudada de acordo com a vontade do Senhor). Pedro podia alertar sobre o erro dos que poderiam até parecer cristãos (e desses, muitos dos tais textos apócrifos no tempo do Novo Testamento foram escritos - por eles ou por "discípulos" que entendiam que a autoridade maior de um personagem mais conhecido poderia dar mais legitimidade ao texto). Mas hoje em dia, é julgamento!

Termino esse "passeio" por atitudes de personagens do Novo Testamento que, em nossos dias seriam tidos por julgadores, mas que são aceitos normalmente em seu tempo e mesmo hoje em dia (mas apenas eles são aceitos - se outros fizerem a mesmíssima coisa, serão tidos como "julgadores"), com João - segunda carta 7-11 e a terceira carta, 5-12 - mais uma atitude que, em nossos dias, poderia ser classificada como julgamento, mas que é aceito no texto Bíblico. Mas só no texto Bíblico! Que ninguém tente fazer igual... claro que pode fazer! Vão dizer que é errado, mas para dizer que você está errado, terão que dizer que os que citei aqui também estavam...

Antes de seguir com exemplos de Jesus, quero citar apenas um personagem histórico: Martinho Lutero. Quando ele afixou as 95 teses na porta do castelo de Wittenberg, ele estava revelando seu julgamento a respeito da forma como a igreja procedia naqueles dias? De forma alguma! Estava alertando para erros entre a prática e pregação da igreja, e a realidade da revelação da Palavra! Por que Lutero pode fazer isso e nós estamos julgando se fizermos algo parecido? Ah... tinha erro doutrinário... mas muitas vezes nos nossos dias há erro doutrinário também, e mesmo assim, alguns não aceitam que se faça o devido alerta...

Será que há uma interpretação errada sobre o que é "julgamento"? Com certeza! Podem negar, mas situações idênticas em nossos dias são tidas como julgamentos! Podem dizer que não, mas vejo isso tanto pessoalmente como através de blogs e redes sociais... Não julgo! Constato diante do que vejo... Não fico imaginando o que fez ou tentando dar razões para o que queria com o que fez; mas posso constatar como faziam os escritores da Bíblia acima citado diante dos atos ou da pregação do "evangelho" - muitas vezes, um outro "evangelho", com alguns pontos parecidos, mas com muitas coisas distantes do que realmente revela o todo da Bíblia.

Podemos sim notar o que acontece, podemos observar e "provar" as revelações, interpretações e afins, podemos comparar com a Palavra de fato e não com textos isolados e constatar a profundidade de uma mensagem - se está arraigada no Evangelho do Senhor ou se está fundamentada em algum "vento de doutrina". Isso não é julgar! Hoje em dia, por alguém ter a igreja cheia, imagina-se que tem muitos frutos. Mas já escrevi: os frutos não são muitos que se achegam para o grupo chamado "igreja", mas pessoas verdadeiramente impactadas e transformadas pela mensagem do Evangelho, que buscam orientação e consolo do Espírito Santo em suas vidas. Podemos ter multidões seguindo um herege! Acontece muito... Alguns são hereges conscientemente, enganam o povo mesmo... Outros, podem estar enganados com a interpretação e com os resultados obtidos, e são guias cegos...

Deixei para o final observações da conduta de Jesus, de quem devemos ser imitadores, e expliquei no começo a razão: não queria que logo no começo alguém tivesse aparentes razões para desacreditar o texto todo:

Jesus chamou líderes religiosos de seu tempo de "raça de víboras". Não eram descrentes simplesmente! Eram líderes religiosos! Podem dizer que ele tinha como saber o que ia no coração das pessoas por conta de algumas citações nesse sentido, mas Ele não faria uma observação dessas se não fosse possível identificar algo assim com a direção do Espírito Santo! Somos imitadores dele, certo? Jesus mesmo diz que faremos coisas maiores que as que Ele fez, não é mesmo? Então! Busquemos no Senhor a verdadeira interpretação do que nos revela a Palavra para que possamos distinguir entre o que realmente faz sentido com o todo da Bíblia e o que é "texto isolado" ou ainda "vento de doutrina"! O que é assumidamente distante do Evangelho, acho que é mais fácil notar... Mas há coisas que podem se confundir com a Mensagem do Evangelho caso não nos preocupemos com a devida observação e conhecimento...

Quando Jesus chama líderes religiosos de "hipócritas", vai na mesma direção. E veja: O Evangelho de João nos revela que Jesus veio para os seus e estes não O receberam! Por conta disso, a todos que O receberam foi dado o poder de serem feitos filhos de Deus, a todos os que viessem a crer no Seu nome... Logo, antes da cruz, Jesus tratava sim com os judeus! Alguns exageram nessa interpretação, mas um observador minimamente atento pode notar claramente isso. Logo, Jesus queria colocar em ordem a interpretação da Lei para os seus. Como esses não receberam esse ajuste com bons olhos, Ele foi para a cruz e completou o encaminhamento da profecia, alcançando outras ovelhas, agora por Graça!

Em nossos dias, principalmente se o líder religioso tem muitos seguidores, muitas igrejas, é quase ser anátema resolver mostrar que a interpretação das Escrituras está errada! É julgamento! Mas... Jesus se preocupou com isso... É preciso se preocupar com a mensagem divulgada, pois o compromisso do Senhor é com o Evangelho anunciado e revelado, e não com as interpretações que parecem fazer sentido... A essas, como os primeiros cristãos, quer seja comportamentos completamente contrário ao viver de quem é guiado pelo Espírito, quer seja uma pregação que parece fazer sentido, mas que não tem coerência com o todo da Bíblia, caso falemos disso, não estamos julgando!

Precisamos entender melhor o que Jesus disse em João 7.24: "Não julgueis pela aparência mas julgai segundo o reto juízo"... Isso tem confirmação em 1 Coríntios 14.29 - "E falem os profetas, dois ou três, e os outros julguem", ou ainda 1 João 4.1-6 (alguns pensam que "provar o espírito" é algo apenas para um momento onde um demônio seja revelado ou expulso, mas o contexto desse texto revela que é algo para pregações e pregadores, falsos profetas).

Observar e constatar, com base nas Escrituras, não é julgar fora do reto juízo... É provar ou julgar de acordo com esse reto juízo... Precisamos crescer nesse entendimento!

Forte Abraço!
Em Cristo,
Ricardo, pastor